sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Terra Santa se prepara para celebrar o Natal

Lugar de nascimento de Cristo recebe multidão de peregrinos e turistas há várias semanas

A Terra Santa, berço do cristianismo, preparava-se nesta sexta-feira para celebrar o Natal no coração de uma região em luto pelo massacre e fuga de cristãos do Iraque e condicionada, mais uma vez, à paralisia do conflito israelense-palestino.

Cruz é vista em frente da Igreja da Natividade, onde cristãos creem que Cristo nasceu, durante procissão de Natal em Belém, Cisjordânia

Na cidade palestina de Belém, o patriarca latino de Jerusalém, monsenhor Fuad Twal, presidirá a partir das 21 horas locais (19 horas de Brasília) a tradicional missa do Galo na igreja de Santa Catarina, ao lado da basílica da Natividade, na presença do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.

O lugar de nascimento de Cristo recebe uma multidão de peregrinos e turistas há várias semanas. Belém deve receber quase 1,5 milhão de visitantes em 2010 e a Terra Santa mais de 3 milhões (um número recorde), segundo estatísticas palestinas.

Fuad Twal celebrou nesta semana, em sua mensagem de Natal, o resultado, que segundo ele "reflete a dimensão universal de Jerusalém, de Belém e de Nazaré". Mas também recordou "os sofrimentos e as inquietações que permanecem", a primeira delas o destino dos cristãos no Iraque, que fogem do país desde o último massacre em Bagdá.

Em 31 de outubro, um ataque reivindicado pela Al-Qaeda contra uma igreja siríaca católica de Bagdá deixou 46 mortos, incluindo dois padres, provocando o posterior êxodo de milhares de cristãos do Iraque, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

Atualmente vivem no Iraque meio milhão de cristãos, enquanto havia entre 800 mil e 1,2 milhão em 2003. O Papa Bento 16, que também manifestou temor a respeito da situação dos cristãos no Oriente Médio, presidirá a celebração de meia-noite no Vaticano.

Em uma mensagem de rádio divulgada nesta sexta-feira pela BBC britânica, Bento 16 afirmou que "Deus "sempre é fiel a suas promessas", mas que pode "surpreender" pela forma de cumpri-las.

O Sumo Pontífice citou como exemplo o fato de que "os filhos de Israel esperavam o messias que Deus havia prometido e o imaginavam como um grande dirigente que os libertaria da dominação estrangeira", na época em que a Terra Santa formava parte da Império Romano. "Mas Deus lhes surpreendeu porque foi um menino, Jesus, que veio para salvá-los", completou.

O papa, que fez sua primeira visita à Grã-Bretanha há três meses, a primeira de um chefe da Igreja Católica a esse país desde o cisma anglicano, no século 16, concluiu a mensagem desejando um "feliz Natal" aos ouvintes.

A respeito da Terra Santa, monsenhor Fuad Twal manifestou o "sofrimento" com o bloqueio nas negociações de paz israelo-palestinas, mas insistiu que o "fracasso não deve nos deixar na desesperança".

As negociações entre Israel e os palestinos estão paralisadas desde o fracasso dos Estados Unidos para conseguir um novo congelamento na colonização judaica. "Continuamos acreditando que existem homens de boa vontade nas duas partes do conflito e na comunidade internacional, que disponibilizarão suas energias em comum", completou o prelado católico.

Peregrinos cristãos veem pintura da Virgem Maria e do bebê Jesus dentro da Igreja da Natividade, onde cristãos creem que Cristo nasceu, em Belém, Cisjordânia

Na área da segurança, o Exército israelense recebeu a ordem de facilitar, durante as festas de Natal, a passagem dos peregrinos cristãos pelos postos de controle, incluindo os palestinos dos territórios ocupados e os árabes israelenses.

A cidade de Belém, onde nasceu Jesus segundo a tradição cristã, fica além da barreira de segurança construída por Israel na Cisjordânia ocupada. As autoridades israelenses decidiram conceder permissões especiais aos cristãos palestinos dos territórios ocupados (7 mil) e de Gaza (500), para que possam visitar Belém e suas famílias instaladas em áreas normalmente proibidas.

Pela primeira vez, Israel autorizou 200 cristãos procedentes de países árabes com os quais não mantém relações diplomáticas (exceto Egito e Jordânia) a entrar no território israelense através da fronteira jordaniana.