quinta-feira, 26 de maio de 2011
Como é que esta passagem permite o uso de bebida forte, quando outras passagens condenam o seu consumo?
Deuteronômio 14:26
PROBLEMA: De acordo com Deuteronômio 14:26, Deus permite a compra de vinho ou bebida forte para celebrar uma festa perante o Senhor. Entretanto, Levítico 10:8-9 proíbe o uso de bebida forte pelos sacerdotes, e passagens como Provérbios 20:1, 23:29-35 e, 31:4-5 parecem proibir o uso de bebida forte, quando as outras condenam claramente o seu uso?
SOLUÇÃO: É claro que as Escrituras condenam o uso de bebida forte. Levítico 10:8-9, por exemplo, proíbe o sacerdote de beber vinho ou bebida forte quando ele está prestes a ministrar na tenda da congregação. Provérbios também proíbe o uso de vinho ou de bebida forte por reis ou governantes, para que não pervertam a justiça. Além disso, muitas passagens alertam quanto ao efeito desencaminhador da bebida forte (Pv. 20:1) e condenam o seu uso de maneira geral.
A palavra traduzida por “come-o”em Deuteronômio 14:26 tem o sentido de consumo em geral, e pode incluir tanto a idéia de beber como a de comer alimento sólido. Entretanto, a passagem não nos dá permissão para beber bebida forte ou tomá-la em excesso. Isso é especificamente condenado no NT e também no AT. Era uma prática comum diluir a bebida forte (i.e., normalmente o suco da uva fermentado) na proporção de três partes de água para uma parte de vinho. Nessa forma mais fraca, e ingerida durante as refeições de forma moderada, não haveria perigo de excesso. Apenas assim o “vinho” foi permitido nas Escrituras, e ainda apenas numa cultura não alcoólica.
Ainda que o consumo moderado de vinho assim diluído possa ser permissível, numa cultura totalmente atingida pelo alcoolismo (como a nossa) não vale a pena. Paulo adverte em 1 Coríntios 6:12 que “todas as cousas me são lícitas, mas nem todas convém”. Ele declara, ainda, que “é bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra cousa com que teu irmão venha a tropeçar”(Rm. 14:21). Deus quer que a nossa vida seja influenciada pelo Espírito, não pelos espíritos.
A Bíblia opõe-se tanto à bebida forte como à embriaguez (1 Co 6:9-10; Ef 5:18). Ela lamenta a situação daqueles que bebem tanto bebida forte como a daqueles que bebem em excesso (Is 5:11; Am 6:1,6; Mq 2:11). Os líderes cristãos são incitados a ser temperantes (1 Tm 3:3,8). Todos são advertidos de que muito álcool é algo que Deus abomina (Am 6:1-8).
Embora pequenas doses eram recomendadas por razões medicinais (1 Tm 5:23), em parte alguma a Bíblia recomenda que a bebida forte seja tomada. A única referência a tomar “bebida forte” é como um meio – de suavizar a dor, em circunstâncias extremas: “Daí bebida forte aos que perecem”(Pv 31:6).
Deuteronômio 14:26 não deve ser usado como desculpa para tomar bebida forte por diversas razões.
Primeiro, a ordem dada não foi para tomá-la, mas simplesmente comprá-la. Havia outros usos legítimos para o álcool, ou seja, para cozinhar, para curar (cf, Lc 10:34) e para aliviar a dor.
Segundo, a frase seguinte fala com clareza apenas de “comer”, e não de beber bebida forte.
Terceiro, mesmo que beber estivesse implícito no termo “come-o” (v. 26), os judeus sempre diluíam a bebida na proporção de três partes de água para uma de vinho, com moderação em suas refeições. Isso feito assim tomando-a de forma branda e sem excessos, junto com o alimento, os preservaria dos excessos que ocorrem hoje nas culturas dadas ao álcool.
Quarto, sempre é errado fazer uso de uma passagem não muito clara (como Deuteronômio 14:26) para contradizer todas as outras que são bastante claras (citadas acima) contra a bebida forte.
À vista de todos esses fatores, o melhor é concluirmos com o apóstolo Paulo: “É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra cousa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer] “(Rm 14:21).
Do livro Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições da Bíblia”, Normam Geisler e Thomas Howe
Fonte: Maxmode