sábado, 17 de setembro de 2011

Feira de Santana - Bahia

Origem do município

Uma das fazendas, localizada na estrada das boiadas, três léguas ao sul do arraial de São José das Itapororocas, chamava-se Santana dos Olhos d'Água. Ela é de particular interesse, porque se tornou o sítio da presente cidade de Feira de Santana. Com quase uma légua de comprimento e meia légua de largura, Santana dos Olhos d'Água era conhecida como uma grande propriedade nessa área. Pertencia ao português Domingos Barbosa de Araújo e à sua espôsa Ana Brandoa, que nela se havia instalado nos princípios do século dezoito. De acôrdo com a tradição corrente em Feira de Santana, Domingos e Ana Brandoa constituíam um casal virtuoso, amado, e admirado por todos que o conheciam. Bons cristãos, construíram uma capela próxima da casa de residência, dedicada a Santana e a São Domingos. A devoção era tal que, quando faleceram em 1833, toda a fazenda foi considerada propriedade da capela, não podendo ser dividida nem vendida.

Algum tempo depois da construção da capela, tornou-se ela um ponto de encontro para o povo do distrito, que aí se reunia para fazer orações, visitas e negócios. Dessa maneira, a pouco e pouco se ia desenvolvendo uma feira periódica em Santana dos Olhos d'Água. A feira, que teve início por volta de 1840, deu o seu nome à atual Feira de Santana. Conhecida a princípio como a feira de Santana dos Olhos D'Água, depois se chamou simplesmente Feira de Santana. Uma vez localizada, a feira tornou-se uma parte da vida econômica e social de toda a circunvizinhança e suficientemente importante para ser considerada um arraial florescente junto à capela de Santana dos Olhos d'Água.

Desenvolvimento


A Bahia, por causa de sua formação geográfica característica, divide-se em duas regiões distintas e desiguais. A primeira é a estreita planície costeira, ou seja uma área agrícola bastante rica, onde caem pesadas chuvas no inverno. Este cinturão tropical estende-se ao longo da orla marítima, de norte a sul e varia em largura de dez a cinquenta milhas. Conquanto compreenda somente uma pequena fração da área total da Bahia, contém mais do que uma quarta parte da população do Estado, a maioria da qual vive na cidade de Salvador (capital do Estado) e nos municípios ao redor da baía de Todos os Santos. Essa pequena área domina o Estado, econômica, política e socialmente.

A segunda das duas regiões da Bahia é o sertão, um vasto planalto semi-árido que cobre a maior parte do interior do Estado. É uma terra de sêcas periódicas, de invernos frios, compridos e sem chuva, de verões quentes, apenas interrompidos por trovoadas ocasionais. A economia do sertão baseia-se, especialmente, na criação de gado. Nestas circunstâncias não é de estranhar que haja poucas grandes cidades em toda a região.

Feira de Santana localiza-se favoravelmente entre o sertão e a costa, a mais ou menos 108 quilômetros da cidade do Salvador, utilizando-se a rodovia federal BR-324. Feira de Santana está numa elevação de 256 metros (aproximadamente 800 pés) situa-se numa porção de Planalto interior que alcança quase até a baía de Todos os Santos. Por outro lado, os vales dos rios Pojuca e Jacuípe, que atravessam o município a leste e a oeste, respectivamente, da cidade, são projeções, para o interior, dos solos profundos e ricos da planície costeira. Situação semelhante observa-se em relação às chuvas. Os padrões da região costeira e do interior modificaram-se para formar um terceiro tipo de Feira de Santana. A não ser durante os anos de sêca, o município tanto é beneficiado com as chuvas moderadas do inverno, vindas do oceano Atlântico, como pelas trovoadas de verão, que se origina no sertão.

A posição geográfica de Feira de Santana, a meio caminho entre a costa e o interior, reflete-se na economia do município. Tal como no sertão propriamente dito, a criação de gado está grandemente desenvolvida e por muitas décadas a cidade sustentou a fama de uma das mais concorridas feiras de negócios de gado no Brasil. Ao mesmo tempo, a combinação da topografia típica, com diferentes solos e chuvas moderadas permitiu uma ampla variedade de produção agrícola tropical e semi-tropical, em Feira de Santana. A população crescente no município exige um consumo local cada vez mais pronunciado de gado e de produtos agrícolas, enquanto a proximidade das cidades costeiras assegura aos criadores e agricultores um mercado imediato para os excedentes.


Conquanto uma parte considerável da sua prosperidade seja uma consequência do clima favorável, Feira de Santana deve a importância presente, em razoável proporção, à posição estratégica, visto que se localiza como a principal cidade na estrada-tronco que liga a Capital ao interior. Desde os dias pioneiros dos primeiros estabelecimentos da Bahia, a economia do Estado se orientou para a cidade de Salvador. Por ter um grande pôrto, Salvador foi e é o principal mercado para os produtos do sertão, bem como de lá procedem as mercadorias de fabricação nacional ou estrangeira. E desde que cinco das seis rodovias principais entre a cidade de Salvador e o sertão passam por Feira de Santana, também passa através do município o grande volume de tráfego entre o interior e a costa.

Feira de Santana é muito mais do que um pouso nas estradas da Bahia. Desde os tempos coloniais tornou-se conhecida como um entrepôsto comercial de vida própria. As atividades comerciais cresceram consideravelmente em Feira de Santana, e por mais de um século a cidade gozou da reputação de empório líder do sertão baiano. Como tal, há muito tempo é o ponto de convergência de quase todas as matérias-primas embarcadas do interior para a metrópole, bem como o mercado principal e o mais importante centro de distribuição para os produtos provenientes da Capital. Essa atividade comercial verifica-se não somente pelo grande número e pela variedade de estabelecimentos comerciais localizados na cidade, como também pelo volume de negócios pecuários e agrícolas que realizam-se na feira semanal. Conquanto a feira se instalasse, originariamente, para a venda ou troca de mercadorias produzidas dentro do município, já em 1950 era conhecida em todo o nordeste do Brasil. Os compradores viajavam dos municípios circunvizinhos e da costa para a aquisição dos artigos produzidos em regiões distintas da Bahia e dos outros estados. Já em 1950, Feira de Santana era um mercado importante para os produtos agrícolas e pastoris, do interior. Uma nova fase surgira com rápida expansão dos processos industriais no município, desde o início da Segunda Guerra Mundial. Na cidade, o número de estabelecimentos para o beneficiamento do fumo, do algodão e dos couros e o aproveitamento da carne e dos gêneros alimentícios aumentara de mais de cinco vezes, entre 1940 e 1950. Em todos os anos, somente a cidade de Salvador excedia Feira de Santana em produção industrial.

Do que precede é evidente que a economia de Feira de Santana está firmemente fundada na pecuária, na agricultura, no comércio e na industria. Tal situação é notável na Bahia, onde a maioria das regiões sofre os efeitos de uma longa tradição de monocultura, derivando suas rendas de um único produto. Esse sistema está de tal modo espalhado na Bahia que de todos os municípios do estado, somente o da cidade de Salvador terá a sua economia mais variada do que a de Feira de Santana. A natureza complexa da economia municipal, todavia, não se deve à previsão do povo de Feira de Santana, mas, de fato, à feliz situação geográfica do município, na convergência das estradas na Bahia.

Em menos de um século e meio, Feira de Santana transformou-se de região pastoril, quase desconhecida, de escassa população, numa das comunidades mais ricas e mais densamente povoadas do sertão baiano. Essa importância explica-se pela feliz combinação de fatores geográficos e humanos que fazem de Feira de Santana a "Princesa do Sertão".

Fonte: Feira de Santana - Rollie E. Poppino