Líder deposto foi morto durante queda de Sirte, um dos últimos bastiões do regime; CNT deve anunciar em breve a libertação do país
O primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mahmoud Jibril, confirmou nesta quinta-feira que o líder deposto Muamar Kadafi, de 69 anos, foi morto na Líbia. Kadafi, que se agarrou ao poder por 42 anos até que fosse deposto por sua própria população em um levante que se tornou uma sangrenta guerra civil, foi morto por forças revolucionárias durante a queda de Sirte, sua cidade natal, o grande último bastião de resistência desde a queda do regime, há dois meses.
"Esperávamos por esse momento há muito tempo. Muamar Kadafi foi morto", disse Jibril durante uma coletiva na capital do país, Trípoli. De acordo com o premiê, o presidente do CNT, Mustafa Abdel Jalil, declarará a libertação da Líbia ainda nesta quinta-feira ou o mais tardar na sexta.
Na coletiva, Jibril também pediu que a Argélia entregue os membros da família de Kadafi que se abrigaram no país. A mulher do líder deposto, assim como três de seus filhos - Aisha, Muhammad e Hannibal - fugiram para a Argélia em agosto. Saadi, outro filho de Kadafi, abrigou-se em setembro no Níger. A Interpol emitiu um mandado de prisão contra ele a pedido do CNT.
Além da morte de Kadafi, Abdel Majid Mlegta, autoridade do CNT, disse à Reuters que Mutassim, outro filho do Kadafi, morreu durante a captura do pai. "Ele tentava retaliar e resistir aos combatentes", disse. Há relatos conflitantes sobre o paradeiro de Saif al-Islam, sempre apontado como sucessor de Kadafi.
À rede de TV árabe Al-Jazira, uma autoridade do governo interino afirmou que ele ainda estaria foragido no deserto da Líbia. Posteriormente, surgiram informações de que ele, que teria tentado fugir de Sirte em um comboio, estava cercado e sob ataque. Já a rede Al-Arabyia afirmou que ele foi morto.
Outros dois filhos de Kadafi foram mortos previamente. A morte de Khamis em um confronto perto de Trípoli foi confirmada por uma rede pró-Kadafi nesta semana. O filho mais novo de Kadafi, Saif al-Arab, foi morto em um ataque aéreo da Otan em abril.
Kadafi é o primeiro líder morto na Primavera Árabe, onda de movimentos populares que ocorrem no Oriente Médio e no norte da África desde dezembro para exigir o fim de governos autocráticos e mais democracia. Kadafi foi um dos líderes mais longevos do mundo, dominando o país por meio de um regime comandado por seus caprichos e atraindo condenação internacional e isolamento durante anos.
Os líderes ocidentais, que contribuíram para a queda do regime por meio de operações da Otan, consideraram que a morte de Kadafi marcava o "fim da tirania". A presidenta brasileira, Dilma Rousseff, afirmou que o mundo deve apoiar e incentivar o processo de transição democrática no país, mas ressaltou que uma morte não deve ser "comemorada".
Líbios saíram às ruas de todo o país para celebrar a notícia. "Nosso atual ambiente será aprimorado. Esperávamos por essas notícias. Líbia se tornará um local muito seguro. A comunidade econômica aqui ficará muito feliz, poderemos retomar nossos negócios. Estamos gratos aos EUA, à França e ao Reino Unido por sua ajuda", afirmou um residente de Trípoli.
Ainda não há detalhes exatos de como ele foi morto. Informações iniciais de combatentes indicam que ele estava escondido com seus partidários nos poucos prédios que ainda controlavam em Sirte, que fica na costa do Mar Mediterrâneo. Em meio a fortes combates, um comboio tentou fugir do local e foi atingido por ataques aéreos da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), apesar de não estar claro se Kadafi estava em algum dos veículos.
A Otan confirmou que bombardeou dois veículos militares pró-Kadafi nos arredores de Sirte. "Aproximadamente às 8h30 locais, a Otan bombardeou dois veículos pró-Kadafi que faziam parte de um grupo maior manobrando perto de Sirte", disse o porta-voz Roland Lavoie em uma declaração.
O corpo do líder deposto foi levado para a cidade vizinha de Misrata, que as forças de Kadafi cercaram durante meses. Mohammed, um residente de Misrata, alegou que esteve na mesquita para onde o corpo de Kadafi foi levado. À BBC, disse: "É definitivamente ele, é seu cabelo, seu rosto, saberia disso em qualquer lugar - todos os líbios saberiam."
A rede de TV Al-Arabyia mostrou uma gravação em que o corpo ensanguentado do ditador é colocado em um veículo cercado por uma ampla multidão gritando "O sangue dos mártires não correrá em vão." A rede de TV árabe Al-Jazira divulgou um vídeo de um homem parecido com Kadafi morto ou severamente ferido, com sangramento na cabeça, enquanto combatentes o arrastavam pela rua (veja vídeo abaixo). Antes, a agência de notícias AFP divulgou uma imagem mostrando um homem parecido com Kadafi.
Antes da informação sobre a morte de Kadafi, o comandante do CNT Mohamed Leith, anunciou que ele havia sido capturado. "Ele foi capturado em sua cidade natal, Sirte. Está muito ferido, mas ainda está respirando." Segundo ele, o líder deposto vestia um uniforme cáqui e um turbante.
Kadafi estava foragido desde que as forças do governo interino tomaram o controle da capital líbia. O CNT também anunciou a morte de Aboubakr Younès Jaber, ministro da Defesa da era Kadafi.
Queda de Sirte
Os anúncios foram dados na TV estatal líbia pouco depois de as forças do governo interino da Líbia terem anunciado a tomada de controle de Sirte, um dos últimos bastiões de seus partidários. “Sirte foi liberada”, afirmou o coronel Yunus Al Abdali, chefe de operações na parte oriental da cidade. “Os combates continuam porque estamos caçando os partidários de Kadafi, que fugiram.”
Segundo a agência AP, jornalistas assistiram ao ataque final na cidade, que começou por volta das 8h (horário local) e durou cerca de 90 minutos. Pelo menos 20 partidários de Kadafi teriam morrido. Depois da batalha, as forças do CNT começaram a vasculhar casas e prédios em busca de partidários escondidos. Pelo menos 16 homens pró-Kadafi foram capturados, assim como várias armas e munições.
Tiros foram disparados para o alto em celebração à queda de Sirte, que acontece quase dois meses após as forças do CNT terem controlado Trípoli. O CNT tinha afirmado que quando obtivesse o controle de Sirte, seria possível dizer que todo o país estava “livre”. AAa
As informações são do IG