Documentos americanos indicam que líder italiano obteve redução no valor de contratos de energia por sua relação com premiê russo
Foto de 18/04/2008 mostra os premiês italiano, Silvio Berlusconi (à dir.), e russo, Vladimir Putin, em Porto Rotondo, na Sardenha, Itália
Diplomatas americanos relataram suspeitas de que o premiê italiano, Silvio Berlusconi, poderia estar "lucrando pessoalmente" com acordos secretos com o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, de acordo com o jornal britânico Guardian citando telegramas diplomáticos divulgados pelo WikiLeaks.
Exasperada pelo comportamento pró-Rússia de Berlusconi, a embaixada americana detalha alegações que circulavam em Roma de que o líder italiano recebeu a promessa de uma redução nos valores de grandes contratos de energia.
Os dois líderes são reconhecidamente bem próximos, mas essa é a primeira vez que surgem alegações de um vínculo financeiros entre ambos.
O Departamento de Estado de Hillary Clinton, em Washington, enviou um pedido especial para a embaixada em Roma neste ano, pedindo a compilação de material extra de inteligência sobre os dois premiês: "Quais investimentos privados, se algum, têm que possam influenciar suas políticas externas e econômicas?"
Referências à "relação financeiramente enriquecedora" tiveram origem entre membros de seu próprio partido e do governo da Geórgia, que é rival da Rússia, de acordo com os telegramas diplomáticos vazados pelo site.
O então embaixador dos EUA em Roma, Ronald Spogli, primeiramente relatou as alegações em uma série de correspondências entre 2008 e 2009. Ele disse que o líder italiano centralizou o controle dos acordos com Moscou, com o objetivo primordial de agradar ao líder russo.
Berlusconi agiu como um "porta-voz" de Putin, disse Spogli, apoiando Putin em público quando a Rússia estava sob críticas.
Os dois eram próximos, "com a família de Putin mantendo longas visitas à mansão de Berlusconi na Sardenha". Em troca, o premiê italiano usufruía do raro privilégio de ser convidado para a casa de veraneio de Putin em Sochi, no Mar Negro, para o que a embaixada especulou em uma ocasião seria uma "festa explosiva". Um contato no escritório de Berlusconi relatou à embaixada a "troca de presentes caros".
Em janeiro de 2009, de acordo com os telegramas diplomáticos, Spogli escreveu que era "difícil de determinar" a base da amizade entre os dois. "Berlusconi admira o estilo de governo másculo, decisivo e autoritário de Putin, que o premiê italiano acredita corresponder ao seu."
Entretanto, "contatos no oposicionista Partido Democrático, de centro-esquerda, e na legenda do próprio Berlusconi indicam uma conexão mais nefasta. Eles acreditam que Berlusconi e seus partidários estão lucrando muito e pessoalmente com muitos dos contratos de energia entre a Itália e a Rússia".
Spogli continuou: "O embaixador da Geórgia em Roma nos contou que o governo da Geórgia acredita que Putin prometeu a Berlusconi um porcentual dos lucros de quaisquer dutos desenvolvidos pela Gazprom em coordenação com a ENI."
O conglomerado de energia italiano é parcialmente propriedade do governo da Itália. Ela trabalha em estreita colaboração com a estatal Gazprom, a gigante de energia que vende o gás e o petróleo russos ao exterior.
Em novembro de 2008, o embaixador dos EUA enviou uma grande mensagem para Condoleezza Rice, a então secretária de Estado dos EUA, para prepará-la para um econtro com o primeiro-ministro italiano.
"A estreita relação pessoal (e, alguns suspeitam, financeira) de Berlusconi com Putin o levou a defender sem questionar qualquer iniciativa do Kremlin. A política da Itália em relação à Rússia é seu brinquedinho, que ele conduz com a tática de ganhar a confiança e o favorecimento de seus interlocutores russos. Ele consistentemente rejeita o conselho estratégico do demoralizado, sem recursos e cada vez mais irrelevante Ministério de Relações Exteriores em favor de seus companheiros de negócios, muitos dos quais estão profundamente imersos na estratégia da Rússia para a energia na Europa".