quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

No Lagar Com Gideão

“E Gideão, seu filho, estava malhando trigo no lagar, para o pôr a salvo dos midianitas” Jz 6:11

No mundo antigo, o lagar era uma grande bacia, onde os homens pisavam uvas. Eles seguravam-se em cordas acima deles e esmagavam as uvas com os pés. O suco era retirado em recipientes que ficavam nas laterais da grande bacia. Na ilustração do artigo, uma mulher é vista trazendo mais uvas em uma cesta. Lagares ficavam em locais escondidos, escuros e de acesso restrito.

Já o trigo era malhado na eira, um espaço amplo e arejado, para que o vento soprasse as impurezas do cereal, no momento em que o lançavam para cima. Gideão ao malhar trigo no lagar, se escondia dos midianitas, preservava o alimento para não ser roubado garantindo sua sobrevivência e de toda família.

Havia sete anos que os midianitas invadiam Israel roubando-lhes gado, ovelhas e toda sorte de alimentos, deixando-lhes sem sustento algum Jz. 6:4. A população vivia amedrontada, assustada e já estava tão entregue a situação que fez covas nos montes, cavernas e construiu fortificações Jz 6:2

Quem eram os midianitas?
Eram descendentes direto de Abraão. Fruto do relacionamento do patriarca com Quetura, logo após a morte de Sara: E Abraão tomou outra mulher; o seu nome era Quetura. E gerou-lhe Zinrã, e Jocsã, e Medã, e Midiã, e Isbaque e Suá. (Gênesis 25:1-2).

Por que invadiam e roubavam Israel?
Principalmente por causa da idolatria. Deus havia enviado um profeta para alertar e libertar Israel . Eles porém não ouviram. “E disse eu sou o Senhor, vosso Deus; não temais os deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; contudo, não deste ouvidos a minha voz” Jz 6:10.

O pai de Gideão era idolatra e Deus o orienta a derrubar os ídolos para poder abençoar a família, o lugar: “Derruba o altar de Baal que é de teu pai, e corta o poste-ídolo que está junto do altar, depois edifica ao Senhor teu Deus um altar” Jz 6:25, 26

O Trigo No Lagar
Malhar trigo no lagar exige um esforço sobrenatural. Retirar as minuciosas impurezas manualmente sem ajuda do vento, da claridade deveria levar muitas horas. Ao malhar trigo no lagar, Gideão demonstra disposição e coragem. Não se sabe se outras pessoas em Israel faziam isso, mas na casa de Gideão não faltava alimento: Gado e cereais se mantiveram apesar dos sete anos de ataque dos midianitas, o que me leva a crer que Deus sempre foi com Gideão para guardá-lo. E que, apesar de todo o povo ter uma visão errônea de Deus, considerando-o mau, rancoroso e castigador, Gideão guardava em seu íntimo as lembranças de um Deus bondoso que libertou seu povo do Egito.

É verdade, que essas lembranças estavam ofuscadas pelo pessimismo dos Israelitas, pelo culto aos deuses estranhos na casa de seu pai. Gideão, contudo, era um homem que buscava ao Deus de Moisés, Abraão, Isaque e Jacó. Vejamos:

“Então o anjo do Senhor lhe aparece e lhe disse: O Senhor é contigo homem valente. Respondeu Gideão: Ai Senhor meu! Se o senhor é conosco por que nos sobreveio tudo isto? E que é feito de suas maravilhas que nossos pais se nos contaram, dizendo: não nos fez o Senhor subir do Egito? Porém, agora, o Senhor nos desamparou e nos entregou nas mãos dos midianitas” Jz 6:13.

E ele nem percebeu que o anjo lhe fez um elogio chamando-o de valente? Parece que essa parte não chamou tanto a atenção de Gideão, mas sim o fato de Deus dizer: “Sou contigo”. Como? Ele estava se matando e vendo as pessoas morrerem? Gideão estava escondido, amedrontado, nunca, porém esquecera as promessas do Deus libertador: Ai Senhor meu! Iavé era o Deus de Gideão. A idolatria de seu pai o incomodava, mas ele jamais havia pensado em destruir os ídolos, ou mesmo, que estes fossem motivo de maldição.

Mesmo cheio de perguntas e se achando incapaz de liderar a nação, Gideão obedece ao Senhor e se prepara para a missão: “Vai nessa tua força e livra Israel das mãos dos midianitas; porventura não te enviei eu?” Jz 6:14.

Lições em Gideão
Não me adiantarei a falar das batalhas de Gideão- fica para outro estudo- destacarei o que aprendi com o chamado de Gideão do lagar a destruição dos ídolos em casa de seu pai.Lagares foram feitos para pisar uvas e delas fazer suco e vinho. Esse produto que simboliza alegria, fartura, estava em falta em Israel. Também os louvores e as festas. Lagares em atividade, remetem a prosperidade.

Há tempos os lagares estavam parados naquele lugar, Gideão, porém resolve utilizá-los para o trigo. Esse produto, tão necessário, havia se tornado motivo de alegria para ele. Gideão, apesar de parecer incrédulo e até teimoso, por questionar tanto Deus, tinha o espírito festivo. Olhar para o lagar e vê-lo vazio, não o conformava. É certo que ao utilizar o lagar para malhar trigo, ele se protege dos ataques e garante segurança a si e ao alimento. O acesso a lugar era difícil e impossibilitava a chegada dos midianitas.

O trigo, porém, era o produto mais caro por ali. E se Gideão estava malhando-o, significa que seus campos de trigo também foram protegidos do exército inimigo. Deus era com ele.Malhar trigo no lagar implica ainda, em utilizar sua capacidade na direção errada. Ali, no lagar, um líder de sucesso, mas que não acreditava em si mesmo, a ponto de reunir o povo e formar um contra ataque aos midianitas. Foi necessário Deus se apresentar com a missão, para que ele enfim se enchesse de ânimo. Sete anos de lutas, será que Deus já não havia falado antes a Gideão? Se com o anjo a sua frente o valente ainda pediu um sinal, e um não bastou, pediu mais dois, esse Gideão era mesmo desconfiado! Lembrou-me o discípulo Tomé que precisou apalpar as cicatrizes nas mãos de Jesus para acreditar que Ele havia ressuscitado.

Havia muitos homens em Israel, mas Deus escolheu Gideão e não foi apenas por malhar trigo no lagar, mas pela sua fé. Um homem que não se curvava aos ídolos de seu pai, mas escolhera o Deus das promessas e essas estavam remoendo dentro de Gideão.

Se o trigo simboliza a Palavra de Deus pura e Verdadeira, Gideão ao malhar o trigo no lagar, revivia as promessas feitas ao seu povo. Ele não se entregava ás covas abertas nos vales, nem a miséria, mas batalhava em espírito. Deus conhecia a fé de Gideão e ao que batalhava em espírito, Deus agora chamava para batalhar em carne: “Vai Gideão nessa tua força, forma um exército”.

Eu, Você e Gideão
Deus não havia abandonado Israel, mas Israel abandonara a Deus, por este motivo, a nação sofria os constantes saques, ao que muitos morriam por fome, ferimentos e outros males advindos dos embates. Ainda assim, não se voltavam para Deus, nem ouviam os profetas , mas pioravam a situação se voltando para os ídolos.

A vontade de Deus para nossas vidas é de que sejamos felizes e tenhamos paz pela confiança em Seu nome. É a de que em meio a adversidade nos acheguemos a Ele na certeza de que Ele tem cuidado de nós: “ Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, e buscar a minha face e se converter de seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” II Crônicas 7:14. Israel não clamava, só reclamava e idealizava um Deus raivoso e vingativo.

Deus nos ama, em todo o tempo, Ele ama e está disposto a transformar nosso coração e vidas. A mudança começa em nós. Deus orientou Gideão a derrubar os ídolos de seu pai, alguns ídolos também estavam sendo derrubados no coração de Gideão: Temor dos homens, covardia, omissão. Deus não chamou Gideão para malhar trigo no lagar, mas para ser juiz da nação, mas quantas barreiras existiam? E as barreiras não vinham de Deus, mas do próprio homem.

Podemos culpar Deus pelos nossos fracassos e sofrimentos, pelos campos saqueados, mas temos que ponderar nossas falhas e erros. É certo que Deus não escolhe homens perfeitos, de outra forma, ninguém seria escolhido para ser Seu mensageiro. Mas Deus olha para o coração, essa Palavra é firme e mui antiga e nunca mudou. Um coração quebrantado nas mãos de Deus é um instrumento de Sua vontade, é Sua voz. Gideão tinha muitos defeitos, a grande diferença, era que tinha fé em um Deus Único e Real e guardava as promessas como guardava aquele trigo no lagar.

O lagar era a Nação, triste, vazia, abatida, pobre. O trigo derramado ali era a Palavra de Deus. Gideão não a esqueceu, era Sua força, sua motivação. Mas outros lagares estavam abandonados e nem mesmo havia trigo em seus campos.

Os Midianitas
Esses vorazes gafanhotos nem pareciam está executando a vontade de Deus, não é mesmo? Por que não plantavam em seus campos sem necessidade de roubar Israel? Apesar dos conflitos, Deus estava no controle.

Já vivi terríveis angústias e como Gideão, cheguei a questionar Deus. Pobre de mim. Quantas coisas precisavam mudar, quantos ídolos precisavam ser quebrados dos altares de minha vida? Orgulho, ingratidão, auto-suficiência, vaidades, pecados.

Para vencer o mundo, somente Cristo em nós. E Cristo em nós, significa arrependimento e renúncia: “Se, pois o filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” Jo 8:36. E livres, poderemos libertar, em Nome do que nos libertou. Assim foi com os 300 homens que sob as ordens de Gideão, venceram os midianitas. Deus em bondade e longanimidade não deixa perecer a rebelde nação. Esse é o final da história: Gideão vence os midianitas.

Em Cristo

| Autor: Wilma Rejane | Divulgação: EstudosGospel.Com.BR |